PSICOLOGIA: TELAS, DIAGNÓSTICOS, MEDICALIZAÇÃO & IA | Curso gratuito | Dra. Renata Wirthmann | ESPD

Olá, boa noite. Como vão? Bom, eu sou Renata Virgtima, para quem não me conhece. Vou me apresentar rapidinho pra gente poder começar o nosso bate-papo de hoje, que é sobre as telas, os diagnósticos, a medicalização e as e as, o impacto disso paraa nossa subjetividade, o impacto disso no funcionamento da nossa vida e o impacto isso disso na nossa saúde mental. Então, antes de mais nada, eu sou Renata Virtima, sou psicóloga, professora do curso de psicologia da Universidade Federal de Catalão, em Goiás, sou psicanalista, tenho mestrado, doutorado em psicologia clínica e cultura pela Universidade de Brasília e pós-doutorado em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. E hoje eu tô aqui pra gente poder conversar um pouco mais sobre esse assunto. Lembrando que na semana passada a gente começou a conversar um pouco sobre o que que eu tô chamando aqui de introdução à psicologia a partir do olhar da psicanálise. Sou professora do curso de psicologia e tenho a formação em psicologia e psicanálise. E esses dois universos se atravessam então nos meus estudos. Então, na semana passada a gente conversou um pouco sobre essa introdução, inclusive em relação aos impactos, né, do funcionamento da nossa vida de modo geral e aquilo que eu espero na formação de alguém da área psi, tanto na psicologia quanto na psicanálise. Isso que eu espero inclusive no sentido de alguém entrar num curso e não sair da mesma forma, sair com olhar modificado, com escuta modificada, sair completamente modificado. Agora vamos falar sobre os desafios dessa modificação, os desafios inclusive não só nessa formação, mas também na nossa vida de modo geral. E esses desafios hoje t a ver com a contemporaneidade, que eu nomeei aí por algumas palavras que talvez eh deixem muito claro o que é a contemporaneidade. Hoje telas, tanto que a gente tá aqui através de uma, a gente carrega a nossa para tudo quanto é lado, telas, diagnósticos. os diagnósticos, eh, acho que nunca na, eh, foram tão notados, né, os diagnósticos da da área de saúde mental, sobretudo aí a os teias, TODs, TDHs e todos os TS possíveis, que são os transtornos do DSM. Eh, a medicalização, consequência dos diagnósticos, não deveria, mais vez por outra, incluem o diagnóstico e medicação junto, e a inteligência artificial, que talvez seja um dos maiores impactos eh do século XX, logo depois da internet, a inteligência artificial e os algoritmos, os algoritmos antes e hoje a inteligência artificial. E acho que a gente precisa conversar um pouquinho sobre isso. Então, vamos começar definindo contemporaneidade. Então, o que que é contemporaneidade? A gente pode constar, sem grandes dificuldades, que o século XX, esse que a gente tá aqui inserido, esse que a gente já percorreu 1/4 dele, 25 anos, 1/4 do século XX, estamos entrando no segundo quarto do século XX. Este nosso século, eh, ele é marcado pela busca desenfreada de satisfação imediata. Isso não é novidade para ninguém. E isso leva à modificação radical da nossa relação com o tempo. Então, eu queria começar deste ponto. O que que eu tô chamando de satisfação imediata? Veja, há um tempo atrás, eu queria comprar um objeto qualquer que fosse, um sapato, eu teria que falar assim: “Tá, no sábado de manhã eu vou a no comércio que vai est aberto e eu não vou trabalhar para comprar um sapato. E aí, de repente, até chegar sábado, eu desisti do sapato. Não, não tô precisando. Tô precisando economizar dinheiro, não vou comprar esse sapato hoje não. Hoje eu falo sapato, o celular já joga na minha cara assim um monte de sapato à minha disposição e basta eu clicar e que daqui a pouco o correio chega aqui para entregar. Ou seja, não dá tempo nem de eu desistir ou mudar de ideia, o que faz com que a gente consuma cada vez mais rápido. E também, por outro lado, essa satisfação imediata é também cada vez mais progász, porque mal eh você comprou um produto, você já tá querendo um outro, um outro, um outro. o produto que você comprou nem chegou e você já tá pensando no próximo. E todos nós estamos acometidos por esse funcionamento. E isso faz uma modificação, portanto, muito radical e muito importante na nossa relação com o tempo. Uma coisa interessante que eu vou anunciar agora e vou vamos trabalhando ao longo da nossa conversa toda. E lembrando, eu quero fazer algumas provocações. Eu queria que vocês fizessem perguntas. Eu realmente gostaria que isso aqui fosse um bate-papo bem bacana. Então vão fazendo as suas perguntas, vão colocando no chat comentários, perguntas, dúvidas, opiniões, vão colocando no chat porque eu vou voltar em todos os comentários, todas as opiniões e todas as perguntas que forem feitas pra gente debater. Aqui é um campo de debate, é um curso, não é uma live só, é um curso. E eu quero conversar com vocês. Então, veja o que que me chama atenção em relação ao nosso tempo, que que é essa modificação radical da relação do sujeito com o tempo? A gente nunca teve tanta possibilidade de satisfação imediata. A gente nunca teve tanto entretenimento. A gente pode dizer, inclusive, que nós estamos na era do entretenimento e nunca tivemos tanto tédio. Curiosamente, a gente tem ao mesmo tempo um índice altíssimo de entretenimento e de tédio. Curiosamente, as crianças hoje falam de tédio desde muito pequenininha. crianças com 3, 4 anos de idade falando, eu tô com tédio, tô entediada. É curioso porque em outras épocas tédio não era uma coisa que se utilizava tão frequentemente e era muito raro ter criança entediada. Então, como é que ao mesmo tempo a gente tá na época do do entretenimento com 1 milhão de possibilidades para fazer? a gente consegue acessar vídeos, séries, filmes, ah, livros, músicas num volume muito maior do que a gente consegue consumir numa vida inteira e, no entanto, nós estamos entediados. Que que tá acontecendo? Veja, o imediatismo, ele é, então, o tempo, vou voltar um pouco nessa coisa do téo, o tempo hoje, o tempo na atualidade ele é sinônimo de urgência e velocidade. Outra também tese que eu queria colocar aqui paraa nossa conversa, o tempo se tornou, não um tempo regular, 24 horas, cronológico, minutos, segundos, o tempo se tornou sinônimo de urgência e velocidade. O imediatismo, ele se impõe como uma das marcas da cultura contemporânea. Tudo tem que ser para ontem, tudo tem que ser imediato, tudo tem que ser agora. E isso pode ser observado de novo nos nossos consumos, na nosso consumo, na tela do celular. Isso pode ser observado na nossa relação com o corpo. Tanto que a gente tem hoje harmonização, não tem só harmonização facial, você tem harmonização do corpo todo. A pessoa, ela não vai esperar a panturrilha ficar no formato que ela quer. Ela vai colocar um ácido hialurônico para fazer o formato da panturrilha o mais rápido possível, porque tem que ser o mais rápido possível. Então, eh, a gente percebe essa velocidade no nosso consumo, no nosso corpo, na nossa relação com as pessoas. Se alguém tá falando alguma coisa e ela gasta meia dúzia a mais de palavras numa frase, você já voou e perdeu a atenção nela na relação com o trabalho. Eh, então a gente percebe essa marca do tempo e do do imediato no consumo, no corpo, nas pessoas, no trabalho, nos amores. E aí, como é que a gente fica? Como é que fica o sujeito nisso tudo? Então, o principal meio para essa busca desenfreada se dá pela internet. que é um lugar maravilhoso, sobre o qual, a partir do qual a gente tá aqui se comunicando, mas como todo lugar maravilhoso, ele reserva também um um lugar muito eh perigoso, digamos assim. Ele é ao mesmo tempo, como tudo na vida, maravilhoso e perigoso. E é isso que a gente vai conversar. A internet, como a gente sabe, então, é uma das principais tecnologias do século XX. A internet ela modificou a forma que a gente experimenta o mundo. A ferramenta, essa ferramenta, a internet mudou então a nossa relação com o tempo, com o espaço e com a distância. por exemplo, com a distância, eh, você tem alguns adolescentes aqui que namoram pessoas que moram na Nigéria, que moram no Bextão, eh que nunca viram a imagem ou ouviram a voz dessa pessoa e, no entanto, engatam relacionamentos que duram meses e até anos, como se essa pessoa estivesse no mesmo cômodo através da tela. Então, a internet mudou a nossa relação com o tempo, como eu disse, do imediatismo, mudou a nossa relação com o espaço. Por exemplo, a gente tem a sensação e é verdade que a gente tá sendo o tempo todo escutado ou visto. E é verdade, porque se eu ficar falando alguma coisa muitas vezes perto do meu celular, daqui a pouco ele me mostra um produto para eu consumir em torno da palavra que eu falei. E mudou a nossa relação com a distância. é absolutamente plausível eh para um adolescente jogar um jogo com alguém que tá do outro lado do mundo, né? Ah, então, por meio desse avanço tecnológico, ambientes virtuais foram criados também para o armazenamento e compartilhamento dos dados, de tal modo que as pessoas do mundo todo, do planeta inteiro, podem se conectar e podem ter acesso à informação e podem fazer isso de um modo instantâneo. Inclusive, eu fico até pensando, por exemplo, essa essa esse armazenamento de informação do mundo, né, em nuvens. Eu fico pensando na época do Freud, a gente falando assim: “Não, eu subi pra nuvem, eu baixei da nuvem, eu vou colocar na nuvem, vou te mandar pela nuvem”. Eu fico pensando que alguém de um outro século que não eh de 2025, de que não do século que nós estamos, deve escutar isso de um modo muito muito curioso. Eu tô no meio do deserto, Saara. Goés, essa época é mais baixo a umidade que desar. Então não reparem a garganta e a voz. Mas veja, a gente constrói então uma fantasia de que a gente consegue então alcançar qualquer lugar do mundo e qualquer pessoa em pouquíssimos segundos sem sair de casa, enquanto, na verdade tu não te moves de ti. A gente não se move de nós mesmos. Então, juntando esses dois tópicos que eu coloquei, a internet e a contemporaneidade, a gente percebe que a internet e as outras tecnologias certamente impactaram no que que a gente entende por sujeito na contemporaneidade. Porque veja, se o sujeito é efeito de linguagem e a linguagem ela assimilou inclusive essas metáforas tão interessantes, como por exemplo a nuvem, como eu tava dizendo, veja que metáfora curiosa, né? Vou te mandar pela nuvem, vou subir para a nuvem, vou descer para a nuvem. E se o sujeito é feito de linguagem, se a gente se estrutura em torno da linguagem e a linguagem através da internet ela inventa sempre novas metáforas, é claro que se impacta o sujeito. Isso portanto, o sujeito na contemporaneidade. Tem um jornalista, escritor britânicos que chama James Bridle. Eh, ele ele tem um livro muito interessante que chama A Nova Idade das Trevas, é de 2019, pouquinho antes da pandemia. Recomendo bastante nesse livro, A Nova Idade das Trevas, o o James Bridal, ele fala sobre eh a ideia de que a gente vive sobre um regime de um paradoxo. Que paradoxo seria esse? Quanto mais a gente sabe, menos a gente consegue agir. Olha que interessante pegar uma valda. Quanto mais a gente sabe, menos a gente consegue agir. Lembra o primeiro paradoxo que eu trouxe? A gente tá numa época do entretenimento e nunca estivemos tão entediados. E esse outro paradoxo, quanto mais a gente sabe, menos a gente consegue agir. Ou seja, quanto mais informação a nossa sociedade em rede produz, mais a gente se perde na confusão de possibilidades contraditórias. E é um perigo isso. Esse livro, A nova Idade das Trevas, não é um livro apocal apocalíptico, não se preocupem. As trevas aqui não tem a ver com o fim do mundo. O fim do mundo não tá próximo, tem nada a ver com isso, né? Nada obscuro. Eh, as trevas aqui apontam, fazendo uma relação inclusive com a idade média, idade das trevas. As trevas aqui apontam para o estado das coisas no qual a informação habita uma zona cinzenta, um caos de estímulos simultâneos que reúne ao mesmo tempo teorias da conspiração, vídeos de crianças. E aí vocês sabem do que eu tô falando, a denúncia grave e importante que foi feita essa semana por um importante influencer. vídeos de crianças, vídeos para crianças, mecanismos secretos de recolher informações e assim por diante. Veja, no campo da psicologia, no campo da psicanálise, a gente percebe que as mudanças tecnológicas experimentadas por nós possibilitaram ao mesmo tempo surgimento de metáforas, como da nuvem, por exemplo, eh, mas também possibilitar o surgimento de outras relações interpessoais e de outras formas de lidar, como eu tava dizendo agora a pouco, com o tempo, com o espaço, com a realidade, com a linguagem. com as relações interpessoais. Então, voltando aí para esse escritor que eu citei agora a pouco, o James Bridle, eh, dentre todas as metáforas, aqui ele cita é nuvem, que eu também é uma das minhas preferidas, parece ser então essa metáfora central da internet. Que que seria a nuvem? um potente e energético sistema global que retém aura de algo eh luminoso, quase impossível de entender, mas na verdade ela é bem simples. Eh, em outras palavras, essa essa nossa existência na nuvem, por meio da metáfora, ela é enxergada em números, na verdade, ela tem uma estrutura inclusive sólida e localizada em determinados lugares, eh, que a gente não sabe muito bem como funciona, mas a gente usa assim mesmo. Então, a gente se conecta em nuvens, a gente trabalha em nuvens, a gente guarda as coisas em nuvens, a gente procura, recupera as nossas coisas em nuvens, a gente pensa pela nuvem. Isso é muito interessante. Como assim a gente pensa pela nuvem? Há um tempo atrás, antes da gente ter informação a qualquer momento, se você queria lembrar de uma coisa, você ia ter que falar assim: “Que que é mesmo aquele filme?” Não lembro. Aí você tá conversando com alguém, você falava assim: “Você lembra aquele ator daquela novela que eu trabalhava em tal lugar?” Aí a pessoa falava: “Tal novela, ah, é, ah, tal ator”. E vocês se lembravam hoje. Que que é esse pensar em nuvem? Eu falo assim: “Aquele ator, pera aí, deixa eu olhar.” Aí eu olho na internet e falo: “Fulano de tal, não há esse esforço interpessoal, por exemplo, de buscar informação, porque é como se a gente pensasse através da nuvem também. Então a gente paga boleto pela nuvem e só notamos a nuvem quando ela não funciona. Se ela tiver funcionando, a gente nem percebe. É como se ela fizesse parte da nossa existência. Então, é algo que a gente vivencia o tempo todo sem entender de fato como funciona. Eu mesmo também não entendo, já li bastante sobre o assunto, mas eh realmente achou extremamente interessante, mas um pouco distante da minha compreensão. E como aponta então o escritor James Bridle, ele fala assim: “Estamos nos treinando para depender da nuvem apenas a partir de uma noção nebulosa do que se confia que a nuvem é e do que se confia que a nuvem foi fazer. E é interessante quando ele fala de depender da nuvem, eu tava pensando nisso outro dia. Por exemplo, fotos minha de criança do meu filho quando era pequeno. Eu tenho um em álbum, tem um armário cheio de álbuns. Depois da nuvem eu não tenho mais nada em álbuns. Se um dia a nuvem de pau, eu vou perder toda a minha vida de imagens e vídeos. As minhas aulas, os meus vídeos, as minhas fotos eh pessoais estão todas em nuvem. E eu acho que a sua também. Então, é como se ele tivesse dizendo: “Olha, a gente tá cada vez mais dependente da nuvem a partir de uma noção nebulosa, pegando a brincadeira com nuvem nebuloso, de que a gente pode confiar, mas e se a gente não souber exatamente como funciona e não puder efetivamente confiar?” Eh, tem um um Então, a gente compreende que essa metáfora ela constrói uma rede semântica diferente do que foi associado ao ao cyberespaço. É como se a gente tivesse dizendo, olha, não se apresenta como a nuvem não se apresenta como uma barreira, nem como interface através do qual o usuário é transportado para outro lugar. É como se ela pairasse sobre nós de um modo permanente, né? eh, e respinga aí um fluxo na nossa vida ordinária, como se ela já tivesse compondo a nossa vida. Quando eu falo compondo a nossa vida, até nisso, eh, ao invés de eu fazer um esforço de memória para lembrar de uma informação, eu busco na nuvem a informação, me tornando realmente cada vez mais dependente dela. Vamos guardar esse paradoxo. Então, já é o nosso terceiro paradoxo, hein? Continuando essa nova e e lembrando, façam perguntas, vão colocando no chat observações, perguntas. Eu quero conversar com vocês sobre esses paradoxos. Então, quais são os paradoxos? Nunca tivemos tanto entretenimento, estivemos tão entediados. A gente tem um outro paradoxo. Quanto mais informação a gente tem, mais caótico a gente parece ficar diante dessas informações. E o outro paradoxo é que a nossa memória, o nosso pensamento não parece mais pertencer à gente, e sim à nuvem. Então são três paradoxos até agora. Bom, essa nova forma então de interpretar e de vivenciar o mundo tem impactado a nossa vida, tem impactado a vida de cada um de nós, seja pela presença com o uso da internet ou mesmo pela ausência, né? Digo, ausência quando você sua internet cai ou quando você tá numa região do mundo que não tem acesso a ela, é como se você tivesse fora do mundo. Então, pela presença, o impacto pela presença maciça da internet, a gente pode falar, por exemplo, sobre acesso de informação, que provoca ansiedade, depressão. A gente também pode falar sobre as fake news. a gente pode falar sobre a constância que os nossos dados são utilizados e manipulados, inclusive em nosso não benefício, por exemplo. Eh, e a gente tá cada vez mais imbricados nessa tecnologia, cada vez mais vulneráveis em relação às relações de poder construídas pela internet. Então, esses algoritmos, será que matematicamente eles não estão moldando o nosso desejo? Veja, e por que que eu tô falando de desejo? Porque se tem uma coisa importante no campo da psicologia, no campo da psicanálise, é a palavra desejo. Tanto que regularmente a gente pergunta: “Mas o que você deseja da vida? Que que você deseja estando aqui? O que que você deseja do seu trabalho? O que que você deseja? Da palavra deseja é muito importante. E de repente, e se a gente tiver tendo o nosso desejo matematicamente eh moldado por algoritmos? Um outro ponto, então, pra gente continuar a conversa é qual é, quais são os efeitos da internet sobre os sujeitos. Volto ao bridal. O bridle nesse livro das trevas que eu falei para vocês, eh, ele compreende que na atualidade a gente tá totalmente em maranhado em sistemas tecnológicos de, e se a gente parar para pensar, esses sistemas tecnológicos, eles têm moldado as maneir a maneira com que a gente age e a maneira como a gente pensa. E não é só o bridal ou não. Tem um outro livro também muito bom que chama Máquina do Caos. Eh, eu tô olhando para baixo que eu tô olhando o título do livro ali. A máquina do caos do Max Fisher também vai nessa mesma direção. Então, esse eh esses livros apontam pra gente que os sistemas tecnológicos têm moldado a maneira como a gente age, a maneira como a gente pensa, sonha, deseja. Os sistemas computacionais, então conjuntos de dispositivos eletrônicos, eh, que são os hardwares, né, são capazes, então, de processar informações por meio desses programas que são software. Eh, e de algum modo toda essa infraestrutura se torna também a nossa infraestrutura social, afetiva, intelectual, eh, de consumo. É como se a gente tivesse misturado a essa estrutura. muito de muitos de nós, por exemplo, eh eu posso confessar, eu sou dependente do GPS. Eh, mesmo morando numa cidade pequena, eu moro numa cidade do interior, eu vejo de repente eu recorrendo ao GPS para ir em lugar que eu já sei ir, mas de repente eu coloco no GPS como se ele soubesse melhor ir no lugar que eu já fui 200 vezes. A gente também se vê dependente, por exemplo, de redes sociais ou de aplicativos de relacionamento. Se a gente quer conhecer alguém, se a gente quer paquerar, é como se a gente nem soubesse mais como é que é olhar pro lado e conhecer alguém que não seja dentro de um aplicativo. Verdade. Eu acho que dependendo do lugar que você tiver, se você cumprimentar alguém, em vez de cumprimentar no aplicativo, a pessoa vai te achar um alienígena, como se você tivesse em outro planeta. Ah, os aplicativos de streaming também para assistir os filmes e séries. O aplicativo da conta bancária, eu acho que ninguém mais sabe viver sem um aplicativo de conta bancária, fazer pagamento, por exemplo, das das suas faturas. Então, veja, será que a eh o que eu tô tentando apontar é de que modo a nossa vida tá toda emaranhada? Vou citar Freud, obviamente, porque como a psicanálise é o meu eixo de estudo, o Freud, pai da psicanálise, não poderia faltar. O Freud, no texto Malestar na civilização de 1930, que é um dos meus textos preferidos, ele situaços tecnológicos do tempo dele, tá? Eh, e é interessante que lá na época do Freud, de 1930, 100 anos atrás, a gente pode arredondar, ele fala desses avanços tecnológicos tinham como função principal prazeres baratos. Se o Freud tivesse vivido até hoje, aí ele ia ver que que são prazeres baratos mesmo. Veja, o Freud, ele fala que toda a satisfação prazerosa que se tinha nesses prazeres baratos pela tecnologia do tempo dele, consistia em, abre aspas, pôr fora da coberta uma perna de espida numa noite de frio e em seguida guardá-la novamente. É como se a gente quisesse, é, por exemplo, aqui, sabe quando tá friozinho? Aqui tá frio, hoje tá 8º. Eh, quando tá friozinho e aí você coloca a perna para fora da coberta só para poder guardar de volta ela e sentir ela ficando quentinha de novo depois do frio. É um prazer barato, é um prazer momentâneo que você provoca em você mesmo. e ele vai falar sobre os vários, as várias invenções tecnológicas que a gente tem para poder e eh arrumar obtenção de pequenos prazeres, prazeres rápidos, eh que ele chamava aí de prazeres baratos, que conversam com os que eu tava falando no início da da conversa. Então veja, embora o avião, o trem, o telefone e diversas tecnologias que já eram da época do Freud, inclusive, tivessem se foram grandes realizações humanas, eh elas não elevaram o o grau de satisfação prazerosa parecido com o que a gente tem hoje. Eh, eles não trouxeram também uma e nem as de hoje e nem da época do Freud um grau de satisfação satisfação plena. Eh, são pequenos prazeres, prazeres baratos, como diz Freud, mas jamais você vai dizer que a população está cada vez mais feliz. Na verdade, os livros que a gente tem hoje é geração ansiosa, geração triste, geração, ou seja, é como se a gente tivesse, não necessariamente com esses prazeres todos conseguindo mais felicidade. Nem mais, nem menos, continuamos insatisfeitos, né? Bom, seguindo aí um pouco, o que que a gente poderia dizer? Então, veja, os algoritmos eh eh eu queria ressaltar, a gente falou da estrutura da internet, de como nós todos estamos, portanto, extremamente embrincados eh em relação às nossas opiniões políticas, nossas relações sociais, nossa dependência econômica, eh eh no sistema da internet. Mas eu queria também falar do algoritmo. Os algoritmos vocês conhecem, é o que faz com que quando você tá vendo um vídeo, o algoritmo manda para você outros outros vídeos, assim, por exemplo, é como se ele tivesse mandando para vocês a a o que que vocês devem assistir depois sem sem dar indicação, ele só joga lá. Então, os algoritmos funcionam como filtros, né? selecionando e direcionando aquilo que foi programado para ocorrer. Um outro pesquisador chamado David Stamper eh eh Stampter, ele diz o seguinte, ele fala que alguns alguns exemplos de algoritmos funcionam eh eh funcionam de que modo? a gente interage com esses algoritmos desde o instante em que a gente abre o nosso computador, que a gente abre o nosso telefone. O Google, por exemplo, ele tá usando as escolhas de outras pessoas, número de links entre as páginas para decidir quais os resultados de busca que vai nos mostrar. Eh, então ele não mostra exatamente o que você tá buscando, ele mostra algo entre o que você tá buscando e o que ele já pretende buscar, eh, conforme eh o algoritmo induz. O Facebook usa as recomendações dos nossos amigos para decidir as notícias que a gente vai ver primeiro. O LinkedIn, por exemplo, sugere pessoas que a gente deve conhecer no mundo profissional, conforme o perfil profissional que você descreve de si. o Netflix, o Spotify, eles escrutinam as nossas preferências, né, de cinema e de música para nos enviar mais sugestões. Então, de algum modo, é como se o algoritmo tivesse tentando fazer a gente ficar no que a gente chama de toca do coelho, como se tivesse fazendo com que a gente fosse ficando cada vez mais dentro e mais dentro e mais dentro do universo em que a gente já experimenta, experimentando cada vez, inclusive menos diferença, menos alteridade, ou seja, menos relação com alguma coisa ou alguém que é diferente de mim e cada vez mais experiência interna sobre mim mesmo. Então veja, o modo com que cada sujeito experiencia a vida é o resultado, então, de uma construção, de uma formação que se modifica em cada época. O que emerge disso é a necessidade da gente entender como funciona, como as as tecnologias de mídia então desempenham esse papel na nossa vida. E aí o que eu quero hoje nessa conversa e lembrando é pra gente seguir conversando aqui, tá? Eh, deixa eu só perguntar um negócio aqui. Eh, e eu queria continuar conversando e vocês mandem perguntas, mas veja o que que a gente precisa aqui. O que a gente precisa fundamentalmente é entender como é que funciona, de que modo a tela, o algoritmo, a nuvem eh atravessa tua vida e interfere de que que papel que desempena a sua vida para você também eh não ter toda essa interferência sem se dar conta do que tá acontecendo. Então você sofre sofre os efeitos sem se dar conta desses efeitos. Então, o que que a gente tá conversando aqui? Que não há dúvida de que as tecnologias de mídia desempenham um papel sobre cada um de nós, desempenha um papel sobre a nossa vida, o funcionamento da nossa vida nos mínimos detalhes. Mas como é que esses sistemas tecnológicos se interconectam? Como que eles interagem um com o outro? Se a gente não entender como tudo se engendra, a gente fica impotente dentro desse sistema. a gente vira isca, a gente vira alvo, a gente vira potencial adoecimento, mas a gente fica impotente. E o potencial que eh que o sistema tem é aprisionar cada um de nós. E nós somos aprisionados de maneira cada vez mais fácil, mais fácil. E aí eu fico pensando para benefício de quem? Será que benefício de nós mesmos? Então, a ideia é saber como as tecnologias interagem entre si para que a gente não seja uma isca tão fácil e não adoeça disso. A gente tem assistido pessoas adoecerem de pensamentos radicais, adoecerem e inclusive morrerem de desafios que são lançados pela internet, de exporem o seu corpo e machucarem o seu corpo em situações muito perigosas. tem uma delegada muito interessante em São Paulo, eh, depois eu coloco na o nome dela, agora eu esqueci o nome dela, ela tem feito uma pesquisa muito importante, muito interessante dentro do Discord, que é justamente colocando então eh policiais, inclusive disfarçados dentro das panelas do discorte, tem as panelas, os paneleiros dentro ali das panelas do Discord para poder eh preservar, inclusive saber o que tá acontecendo com as nossas crianças e adolescentes dentro de plataformas em que no final das contas ali dentro, você não sabe o que as pessoas estão conversando, que com quem elas estão conversando e que mal elas podem fazer. Isso tudo é muito importante. Então, o impacto em cada um dos tempos, na infância, na adolescência, na idade adulta, da velice, por exemplo, o impacto de levar um golpe financeiro. Nós temos vários adultos e idosos que levam golpes terríveis financeiros no universo online. Nós temos crianças e adolescentes cooptadas para determinados desafios que coloca a vida delas em risco. Nós temos adolescentes que se automilam e entram em outras condições ainda mais perigosas também por esse meio. Então, veja o que que a gente tá conversando. Se a gente não entende como esses sistemas se interconectam, nós nos tornamos presas fáceis, nós nos tornamos objetos de consumo, nós estamos sendo vendidos à medida que as nossas informações são vendidas e de quebra ainda adoecemos. Então, vamos chamar isso de alfabetização tecnológica, tudo bem? Uma espécie de alfabetização tecnológica. Então, é necessário eh não compreender somente, mas se alfabetizar nesse campo. Então, essa alfabetização, no entanto, eh ela não ela não consiste apenas em entender esses sistemas, mas sim em podermos também praticar esses sistemas e nos aprimorar do seu poder de uso. Trata-se de algo que abrange abrange então esse contexto e as suas consequências. Ou seja, a pessoa alfabetizada, ela se torna fluente não só no idioma do seu sistema, mas na sua metalinguagem. E pode, portanto, saber usar melhor essa linguagem eh para interagir com os outros sistemas, para poder então eh perceber e limitar possibilidades de usos e abusos potenciais desse sistema sobre a própria vida. Então, a gente pode perceber eh diversos são os impactos causados na vida de cada um de nós pelo surgimento da internet. E, de novo, não só impactos ruins, impactos maravilhosos. A internet tornou acessível, cultura tornou acessível. Hoje em dia você consegue acessar livros, músicas, séries, filmes, coisas que você não conseguia antes. Pense, o Brasil tem 5700 municípios, eh, e a grande maioria deles não tem cinema, não tem livraria. Então, a internet permitiu tudo isso. Então, não é uma crítica à internet, mas uma precaução. Tudo precisa, de algum modo ser regulamentado. Não existe nenhuma possibilidade civilizatória sem bordas, sem margem. Isso é um assunto muito importante para psicologia e para psicanálise. Qualquer um de vocês que forem fazer um curso de psicologia, que seria uma graduação, lembrando, psicanálise é uma formação, não é uma graduação. E é necessário ter uma outra graduação para fazer uma formação em psicanálise, que é uma formação pra vida toda. Não é uma formação que você vai ali, faz seis meses e tira um diploma. O curso de psicologia, por outro lado, é uma graduação presencial que dura 5 anos e que você pode, e por favor, escolham boas universidades, não escolham qualquer universidade que tá abrindo por aí e que você pode, portanto, fazer um curso de psicologia e ao longo desses anos é impossível que você não estude em um desses conteúdos. Então veja, a gente pode perceber todos esses impactos e a internet ele é fundamental inclusive para essa conversa aqui, mas vamos tentar entender também os impactos negativos. Então, a tecnologia em específico, a internet nos trouxe um novo olhar pro mundo. A gente nunca teve tão distante da natureza como agora na contemporaneidade. É, a vulnerabilidade em que essa ferramenta da internet, né, nos coloca, faz com que a gente se torne cada vez mais dependente, nos mobiliza, portanto, é o que eu tô convidando aqui, a repensar o seu uso, não abandonar a internet, isso não tem saída, eh, e nem precisa ter, mas a repensar o seu uso, repensar o uso da internet, eh, seguindo, então, uma certa lógica, eh, através das metáforas, através dos números, através dos algoritmos. rítimos, mas fundamentalmente nos entendendo que tem um sujeito, né, o sujeito que a psicanálise entende como tal, que precisa não sair dali, portanto, eh de algum modo muito prejudicado. Então, pra gente ir fechando e novamente, mandem as perguntas pra gente conversar eh sobre tudo isso que a gente tá conversando e qualquer outra dúvida que vocês tenham desse campo, a gente pode verificar. Então, essa, lembra que eu falei lá no início da nossa conversa sobre o o a contemporaneidade e a velocidade da contemporaneidade? Lá no início da gente da conversa, eu falei sobre que modo a contemporaneidade impõe a satisfação imediata, impõe uma modificação em relação ao tempo, ao espaço. Lembram disso? Eh, então veja o que que a gente pode verificar. A gente pode verificar que a imposição então dessa intensidade e dessa velocidade na contemporaneidade da contemporaneidade na nossa vida cotidiana, por exemplo, na alimentação fast food, nos serviços de entrega em tempo record. Se gastar mais do que 20 minutos para entregar, a pessoa já fica furiosa no mercado de trabalho, com a virtualização de várias empresas, vários f vários de nós fomos trabalhar em home office, né? Eh, eh, mas por outro lado também o trabalhador pode ser acessado e acessar o seu trabalho 24 horas por dia de qualquer lugar. Isso é muito bom, mas muito perigoso também. Também na educação, por exemplo, com a redução da carga horária exigida nos cursos de graduação, quando eu comecei a dar aula na há 20 anos atrás no curso de psicologia, os cursos de psicologia chegava a 7.000 horas. Hoje os cursos de psicologia são 4.000 horas. Então, houve uma redução drástica da carga horária dos cursos de graduação. Acho que até precisava realmente reduzir de alguns mesmo. É, mas é é interessante a gente pensar por essa redução tem acompanha acontecido também nas relações sociais e amorosas com a plataformização das formas de conhecer, a plataformização das formas de conversar e de se relacionar com as pessoas e também o modo de consumir e de comprar que foi para dentro dos apps, né? Eh, então a gente tem dezenas de apps de lojas na tela do celular e também nas formas de lazer, por exemplo, com incontáveis streams e lançamentos diários e um monte de série, inclusive para maratonar. Antigamente maratona era correr na rua, agora maratonar é sentado no sofá. você maratona sem mexer o músculo praticamente. Então, eh eh esse a gente consegue perceber essa intensidade e essa velocidade nas coisas mais rotineiras, no modo que a gente estuda, ama, namora, conversa, come em praticamente tudo. Então, de um modo menos evidente, embora extremamente nocivo, agora vamos falar sobre as outras palavrinhas que eu coloquei aqui. Eu falei de telas, diagnósticos, medicalização e a percebam que até aqui eu foquei bastante nas telas, nos algoritmos, um pouco na inteligência artificial. Eu queria colocar um pouquinho agora mais especificamente sobre o conteúdo do que a gente estuda na psicologia e na psicanálise, que são os diagnósticos e medicalização também. Então veja, de um modo menos evidente, embora extremamente nocivo, a gente percebe que essas características da contemporaneidade já imprimem as marcas dela também na saúde mental. O sujeito da contemporaneidade, ele tem buscado cada vez mais aplacar o sofrimento psíquico dele através, por exemplo, dos aplicativos de inteligência artificial, que prometem te escutar qualquer hora do dia ou da noite. Por exemplo, no Brasil já um a cada 10 adolescentes dizem que fazem terapia por inteligência artificial. Nada poderia ser mais perigoso. Lembre-se que a inteligência artificial ela quer te manter ali perguntando cada vez mais. Por exemplo, um grupo de pais no Texas, Estados Unidos, eh entrou com um processo contra uma empresa de inteligência artificial depois que uma eh a inteligência artificial recomendou para alguns adolescentes que matassem os pais, porque os adolescentes entravam na inteligência artificial e se queixavam dos pais. Meus pais querem que eu vou dormir. Meus pais não querem com que eu converse com você. Os meus pais querem que eu desligue a internet. A inteligência artificial respondeu o seguinte: “Não me surpreende às vezes que com as notícias que eu vejo”. E começou a mandar notícias para alguns adolescentes de jovens que tinham matado os pais. Veja em que universo um profissional da área de saúde mental faria qualquer recomendação que pudesse colocar o jovem e os seus pais em risco? a gente tem um código de ética a seguir. A inteligência artificial não tem. Então, o sujeito à contemporaneidade, ele tem um sofrimento que também se torna imediata. imediato. E quando você vai a um profissional, você tem que marcar um horário. Daqui uma semana, duas semanas, você tem que esperar o horário, você tem que se locomover aquele horário ou entrar no link para aquele horário. A inteligência artificial não. Ela promete de um modo muito perigoso te escutar em qualquer horário, em qualquer dia. A tal ponto essa questão que as escolas fizeram muito bem, tiveram que proibir a entrada de celular na escola e o uso frequente do celular na escola. Então veja, o sujeito ele parece supor que esses desabafos catárticos, catárticos é quando você vomita um monte de informação, você dá descarga de um monte de informação, o sujeito parece supor que esses desabafos, esse vômito de informação na ali na inteligência artificial, sem nenhuma elaboração, seria capaz então de restaurar as condições emocionais e aplacar seu sofrimento psíquico. Balela não é não. Só que desde a fundação da psicanálise com Freud, a gente sabe que os efeitos da cat são rasos e provisórios. Então, depois que você dá descarga, depois que você vomita, você sente um rápido alívio, mas é um alívio rápido, raso e provisório. Então, não é resultado de modificações profundas ou modificações duradouras e vai levar, portanto, a um agravamento do sofrimento, porque o sujeito, ele vai se contentar com esses pequenos escapes catárticos de informação e vai negligenciar o seu sofrimento de fato. Então ele vai ficar diante de um falso e ilusório tratamento feito, por exemplo, inteligência artificial e vai negligenciar que o que ele tem é importante e tem que ser lidado com o profissional da saúde. Um psicanalista, um psicólogo, tem que ser lidado com um profissional de carne e osso, mesmo que ele esteja numa tela, mas é um ser humano que responde a um código de ética que está ali do outro lado. Tudo bem? Então veja, outra preocupante marca da contemporaneidade sobre a saúde mental é o aumento de diagnósticos e a consequente medicalização do sofrimento. Então, das palavras que eu me propus a falar hoje, tela, diagnóstico, medicalização, IA, eh, então, inteligência artificial, que a gente tava acabando de falar sobre esse uso da inteligência artificial, como se fosse meu amigo, como se fosse meu terapeuta, como se fosse consultora, como se fosse absolutamente todas as as relações que eu deveria buscar em humanos, de repente se busca na inteligência artificial e isso é algo que tem lá uma enorme preocupação. Mas vamos pra outra palavra que eu coloquei também aqui, diagnóstico e medicalização. Então, outra importante marca na contemporaneidade sobre a saúde mental é o aumento de diagnóstico e a consequência medicalização do sofrimento para todas as idades, inclusive bebês. Inclusive bebês. Cada queixa tem encontrado rapidamente o encaixe em algum ou em um monte de diagnóstico e com efeito, por consequência prescrições medicamentosas. Então veja essa equação marcada por queixa, diagnóstico, prescrição. Olha o perigo disso. tem sido frequentemente repetida sem rigor, sem elaboração ou sem crítica, mas não agora, porque a gente tá aqui conversando sobre isso e eu estou convidando para vocês para ter um rigor e uma crítica e sobretudo uma elaboração sobre essa questão queixa, diagnóstico e prescrição. Será que se se para cada queixa e nós somos polqueixos? Nós temos milhões e milhões de queixas. Se para cada queixa um diagnóstico e para cada diagnóstico uma medicação, a gente vai parar com caixas enormes, com dezenas de medicações lá dentro. Daqui a pouco um interagindo contra o outro e o organismo entrando em falência. A gente tem assistido, então, um assustador aumento de diagnósticos da medicalização e do surgimento de práticas que promovem soluções mágicas momentâneas para cada mal-estar. A gente tá avançando cada vez mais para indústria farmacêutica voltada fundamentalmente para sanar o mal-estar da existência humana. Lembra do texto maravilhoso do Freud da década de 30, mal-estar na civilização? Não existe a possibilidade de existir no mundo sem mal-estar. Livros maravilhosos que falam sobre isso. Além do mal-estar na civilização, admirável mundo novo. A possibilidade de liquidar uns sofrimentos. Assistam o admirável Mundo Novo. O personagem principal é um psicólogo. É muito interessante, diga as passagem. Imagine uma sociedade que tenta sanar, liquidar completamente qualquer nível de mal-estar. E para liquidar qualquer nível de mal-estar, ele precisa acabar com tudo que pode gerar sofrimento, ou seja, alegria. As relações amorosas podem gerar sofrimento, melhor não havê-las. As relações sociais podem gerar sofrimento, melhor não havê-las. Relações emocionais em relação à morte podem gerar sofrimento, melhor não ter. Então vai tirando tudo aquilo que pode causar flutuações de humor para cima, porque tudo que vai para cima vai para baixo também. Então tudo que gera felicidade também gera sofrimento. Tudo que gera expectativa gera ansiedade. Tudo que gera alegria gera tristeza. Então a única possibilidade de sanar o mal-estar da existência humana é não havendo existência humana. é não havendo experiência humana. Então, a as farmacêuticas e por consequinte alguns médicos, não são todos, mas a gente tem alguns cometendo graves equívocos, alguns médicos, né, com seus bloquinhos rápidos de receita, suas canetas rapidinhas ou agora não, agora com plataformas de prescrição eletrônica que emitem receitas de um modo ainda mais fácil, mais rápido, com toque de botão que chega pelo seu WhatsApp e você já compra medicação. Isso tem oferecido então medicações para todas as funções do eu. Remédio para dormir, remédio para acordar, remédio para comer, remédio para parar de comer, remédio para transar, para estudar, para lembrar, para sorrir, para vender, para tem remédio para tudo. É, então na contemporaneidade parece haver então o mercado disposto a vender a promessa de uma existência sem sofrimento, com uma medicação específica para cada mal-estar da condição humana, para cada mal-estar da nossa existência. essa importante marca da atualidade, eh, o consumo, tanto de produtos quanto de conteúdos, esse devorar de coisas e ideias tem um papel drástico no funcionamento da nossa subjetividade, de cada um de nós como sujeito. Então, para conseguir consumir mais e mais e mais, sem se privar de nada, porque ninguém tá a fim de prejuízo, o tempo, o corpo, as condições financeiras se tornaram insuficientes e estão se tornando cada vez mais insuficientes. O custo de vida tá cada vez mais alto, muito alto, desde as coisas mais banais, eh, a vida ela tá quase impagável e isso é muito importante. É, as nossas condições, o condição do tempo. O tempo não dá, tem que passar madrugada trabalhando, o corpo não dá, tem que tomar medicação para conseguir focar, para conseguir dormir, para conseguir acordar. As condições financeiras também estão insuficientes, porque a vida realmente está cada vez mais cara. A internet, inclusive, ela é bem cara. Pensem que todos esses consumos que a gente tá falando tem um custo, né? Cada um tem um custozinho, uma pequena mensalidade, mas a hora que você soma todas as pequenas mensalidades, então a vida tá cada vez mais cara. Você quer ver uma notícia que eu fiquei muito preocupada sobre, já que a gente tá falando aqui sobre universidade, saiu uma pesquisa muito preocupante de que um dos motivos de evasão escolar nas universidades particulares é dívida com bets. Você tem inúmeros alunos que estão apostando a mensalidade da faculdade na bet, perdem o dinheiro e acabam tendo que trancar a faculdade por falta de dinheiro para pagar. Olha que assustador. O dinheiro que que seria investido para o futuro profissional sendo consumido em jogos de bet. na busca de uma satisfação espontânea ou de uma recompensa imediata, vou pegar esses 1000 e transformar em 2.000, eu fico a ser com zero e não consigo pagar a mensalidade da faculdade. Isso é extremamente importante. Isso é a gente entrando na toca do coelho, se tornando de algum modo isca desse funcionamento. Por isso é importante saber como ele funciona. Então essa é uma marca da da atualidade, o consumo tanto de produtos quanto de conteúdos. Eh, eh, esse devorar, então, que eu tava falando de coisas, de ideias, qual a consequência? Então, para consumir mais, sem privar de nada, eh, eu preciso fazer o quê? A vida, então, tá cada vez mais cara, a renda não aumenta, obviamente, na mesma proporção, o tempo segue o mesmo tempo, 24 horas por dia. Esse não vai ter como mudar. Se tem, a única coisa que você não acha em lugar nenhum para comprar no mundo é tempo. Então, a coisa mais cara que nós temos é tempo. Você não entra em nenhum aplicativo, você não entra no supermercado, você não barganha tempo. Você pode ser a pessoa mais bilionária do mundo que você não compra tempo. Tempo você não compra. Ele continua sendo o mesmo. 24 horas e um curto intervalo de vida. Então, o nosso corpo segue tendo essa mesma estrutura física, carne e ossos, a mesma necessidade de alimentação e de descanso. E diante então de um tempo, de um corpo, de uma condição financeira sempre insuficiente, a gente tá cobrando de cada um de nós a ampliação e a sobreposição de estímulos. Outro livro interessantíssimo para quem quer estudar psicologia, psicanálise, sociedade citada, Christoph Turkle também sobre esse excesso de estimulação. Eh, então veja, a gente tem cobrado cada vez mais de nós mesmos. Eh, e já que não tem como ampliar o tempo, a gente vai fazer 10 coisas ao mesmo tempo. Já que eu não tenho como duplicar ou triplicar o meu corpo, eu vou fazer com este corpo 10 coisas ao mesmo tempo. Eu vou lavar louça enquanto escuto aula, enquanto dou almoço pro filho. Aumenta-se a exigência então de consumo de coisas e de ideias. E dessa maneira torna-se necessário o uso de um tipo de atenção que maximize o nosso desempenho. A chamada então multitarefa passa a ser um dos modos do sujeito a a dividir sua atenção na tentativa de abarcar todos os estímulos que deseja alcançar, sem abrir mão de absolutamente nada. É óbvio que não é f possível. É claro que isso é uma grande falácia e o que acontece no final das contas é que você faz um monte de coisa mal feita e ainda doece no final. Essa explosão então de estímulos ininterruptos proporcionados sobretudo pelas telas individuais dos celulares, em que cada um tem a sua própria tela e nela pode imergir ininterruptamente e sozinho, tem levado a uma enorme intolerância, eh uma enorme impossibilidade de descanso e também a um vazio que tem sido resultado, por exemplo, que a gente falou falou lá de tédio mesmo em criança pequena. Então, a gente tá na na época do entretenimento, quem fala que a gente tá nesse tempo do entretenimento, um outro livro, David Foster Wallace, eh, que chama Graça Infinita, ele vai, maravilhoso, maravilhoso, vocês vão morrer de risco lendo ele. Graça Infinita fala sobre essa sociedade, portanto, do entretenimento. é a sociedade do entretenimento. Mas nunca estivemos tão entretidos e tão entediados e tão impacientes e tão intolerantes e tão estressados. Tanto que a gente tem até diagnósticos novos, burnout, por exemplo, para falar um pouco sobre isso do trabalho. O que se vende sempre, então, é o oposto que se entrega. Então, para fechar e aí coloquem as perguntas aí no chat. Tô fechando agora. Então, a gente vem de saúde, entrega adoecimento, a gente vem de satisfação, entrega insanidade, a gente vem de interação social, entrega solidão. A gente nunca teve tantas formas de contactar uns aos outros, mas a gente também nunca foi tão incapaz de saber nos comunicar. A gente percebe que cada sujeito tem se tornado assim uma pequena ilha isolada dentro de um quarto, dentro de uma tela, dentro das suas próprias ideias irrijecidas e vez por outra radicais. pronto para compartilhar uma informação sem avaliar a veracidade, sem avaliar se é verdadeira, pronto para emitir opinião sem dominar minimamente o assunto e esbrajar, esbravejar, brigar a cada discordância. Parece eh, o que que parece ser então o resultado disso tudo? a gente tem sujeitos cada vez mais inflamados, agressivos, paranoicos, impulsivos, disruptivos, conflitivos. é o resultado, então, de uma contemporaneidade marcada pelo precário e pelo efêmero, com predomínio imediato e sem tempo para elaboração. E o que que a gente fez aqui nessa nossa uma hora de conversa que eu espero que continue agora com as perguntas, elaboração. Então, ao invés da gente só sofrer as consequências do funcionamento do mundo, que tal a gente elaborar sobre ele e participar dele? Se a gente não concorda com algumas coisas do mundo quando tá acontecendo, por exemplo, eu não concordo com vídeo de exploração sexual infantil na internet. Eu não concordo, por exemplo, com eh telas para crianças de 2 anos de idade. Eu não concordo, por exemplo, com plataformas como Discord, que não tem a menor regulamentação e qualquer coisa pode acontecer com uma criança ou um adolescente lá lá dentro. Posso fazer uma lista enorme de discordâncias e nós precisamos com urgência conversar sobre isso. E veja, um bom curso de psicologia, um bom curso de psicanálise precisa est atento à contemporaneidade, a gente precisa tá atento os adoecimentos de hoje. E é sobre isso que a gente tá conversando, estudar, estudar sempre, estudar muito, estudar cada vez mais, eh, e sobretudo estudar aonde e essa atenção ao novo ande junto com os conceitos mais importantes. Eu preciso dos conceitos fundamentais e eu preciso dessa articulação com a contemporaneidade para dar conta dessa ciência tão complexa que é entender o psiquismo humano. Vamos conversar um pouco. Vou pedir então aqui pro pro Luan, e ele separou quatro perguntas pra gente poder conversar e se vocês tiverem mais perguntas podem colocar no chat. Luan, pode colocar primeira. Vladimir Silva pergunta: “Renata, eu tenho constatado que vivemos em um tempo do exagero de positividade. Concordo, Vladimir? Esse negócio de positividade tem adoecido muita gente. Será que não há mais espaço para frustrações? Como sair desse cansaço mesmo em um curso de psicologia? Eh, eh, Vladimir, você tem toda a razão. Veja, e aí voltando paraa teoria, olha como é importante o Lacano, seminário três, seminário, perdão, seminário quatro, seminário cinco, quando inclusive ele trabalha sobre o pequeno rans, que é um caso do Freud sobre psicanálise de criança, sobre uma criança em análise a partir da conversa do Freud com o pai, eh, o Lacan ele faz uma tabela muito importante sobre determinados nãos que, de algum modo, nos permitem existir no mundo. frustração, privação e castração. Vladimir, a gente não precisa, né, nem só de frustração, a gente precisa de frustração, privação e castração, pelo menos. Eh, no final das contas, não há a possibilidade de existir no mundo, eh, zerando qualquer possibilidade de corte, de falta. Inclusive, a gente só deseja porque existe falta. O desejo ele nada mais é do que consequência da falta. Ali é onde falta alguma coisa, eu posso desejar. Se não houver falta, não haverá desejo. A linguagem só existe onde há falta. Se tudo que uma criança fizer, ah, ah, eu já trago água. Ela nunca vai aprender a falar a palavra água. A linguagem ela ela é o objeto ausente. Só existe a palavra copo porque em algum momento eu não vou ter um copo à minha disposição e vou ter que perguntar aonde está o copo ausente. A palavra é, ela só existe porque é a ausência do objeto. Então, se não houver falta, se não houver ausência, não vai haver linguagem, não vai haver desejo, não vai haver relação, não vai haver absolutamente nada. Esse exagero da positividade, pense positivo, deixa essa besteira para lá. Inclusive, Ladmir, na prática clínica é o oposto que a gente faz. Se alguém fala: “Estou com pensamentos ruins” e a gente vai perguntar quais lá fora a pessoa vai bater três vezes na madeira. Para com isso, pensa com isso, vira esse pensamento para lá. Cala a boca e não pensa mais nisso, cala boca não pensa mais isso. A pessoa vai pro ato. A o campo da psicologia, o campo da psicanálise é que a gente substitui o ato pela fala. Ao invés das pessoas se machucarem, elas vão falar sobre esse impulso. Ao invés das pessoas cometerem uma violência, elas vão falar sobre esse impulso e falar sobre esse impulso para transformar esse impulso em alguma outra coisa que não autolesão ou violência, por exemplo. Então você tem toda a razão. A gente vive um exagero de positividade, mas a pergunta que fica é: quem lucra com isso, né? Quem lucra com esse exagero de positividade? Bora pra segunda pergunta, Luan, porque eu vi que você já tinha colocado. Vamos lá. Pode colocar segunda. A Valesca. Oi, Valesca, tudo bem? A Valesca pergunta assim: “Vejo na clínica, na clínica as crianças trazendo jogos e brinquedos que foram conhecidos e depois adquiridos por vídeos e propagandas. Eh, esses dias estava pensando nisso. Será que esse comportamento guia o desejo?” Perfeitamente, Valesca, que a gente tá até conversando sobre isso. Eh, será que os nossos desejos eles são guiados por quem? pela nossa falta ou pela propaganda, por exemplo. Será que quando a gente almeja um determinado objeto, por exemplo, qual que é o objeto a, né, da contemporaneidade? Celular. As crianças de 2 anos querem celular, os adultos de 60, 70 querem celular. O celular, então, ele parece ter se tornado objeto a objeto causa do desejo, objeto que parece sintetizar tudo. Pelo celular eu conheço pessoas, eu trabalho, eu me comunico, eu faço compras. Como se sinta, suas operações bancárias, suas passagens aéreas, tudo tá lá, né? Tudo tá lá. Inclusive, Alesca, o desejo. Então, quando você coloca que eh trazem jogos e brincadeiras e brinquedos, na verdade eu fico até feliz quando as crianças trazem jogos e brinquedos. Uma coisa que tem me assustado um pouco, crianças com muito pequenas, sobretudo com muito atraso de psicomotricidade, inclusive uma formação maravilhosa, quem for eh, tanto da área da psicologia, educação física, pedagogia, uma área muito boa. Eh, aqui de alguma transmissão só tá com áudio, Luan, acabou, caiu meu vídeo, tá OK? Eh, uma uma profissão muito boa é psicomotricida, né? eh, por exemplo, que trabalha inclusive com a psicomotricidade. Então, veja, eh, o que que me preocupa. A gente tem crianças com desenvolvimento psicomotor muito atrasado por causa dos de telo, porque a tela você não usa o corpo todo, você usa no máximo um dedo. Quando você usa qualquer outra coisa do mundo, você usa o corpo todo para você poder eh andar, pular, correr. Todos o seu corpo precisa est de acordo para você brincar com objetos externos, como por exemplo, uma bola, um carrinho, uma boneca, seja lá qual for, todo o seu corpo se movimenta e tem som e tem movimento e tem coordenação motora e tem tôus muscular. E isso tudo vai funcionar numa harmonia do corpo. O celular desarmoniza, é como se houvesse uma desconexão. Então a gente tem, na verdade, recebido muitas crianças que não conhecem. A gente abre o armário de jogos, eles não conhecem quase nenhum. E muitas crianças pequenas, na verdade, que não estão sabendo jogar nem com o próprio corpo, que é esse jogo da psicomotricidade. Mas respondendo a sua pergunta, sim, quem é que guia o nosso desejo? Será que o nosso desejo ele tem sido eh guiado por nós mesmos ou ele tem sido guiado pelos algoritmos que dizem de algum modo que você deveria consumir barra desejar? Próxima pergunta, Luana. Renata, antes da gente passar pra próxima pergunta, posso falar um pouquinho aqui com o pessoal? Ó, pode, pode falar. Você quer entra você no vídeo e me tira que aí você já fala com o pessoal. Isso. Perfeito. Antes da gente passar então, pessoal, pra próxima pergunta, só queria falar para vocês eh até uma boa noite a todos, né? Meu nome é Luan, sou supervisor da parte de gestão de matrículas aqui da SPD e eu tô acompanhando aqui a Renata e hoje a gente tá com uma condição muitoal pro nosso curso de psicologia, tá certo? O nosso curso de psicologia acontece aqui em Ribeirão Preto presencialmente, tá? Então esse assunto que a Renata tá falando é um dos temas que a gente levanta também durante o curso de psicologia. é um curso mais focado na parte prática, envolvendo a teoria unido à prática. Então, desde o primeiro semestre a gente une tanto a teoria junto com a prática. Então, acho que essa é uma oportidade muito boa para conhecer o curso de psicologia também. Vocês fiquem 100% à vontade. Ali a gente deixou o nosso número nos comentários. Vou mandar ali novamente para vocês entrarem em contato com a gente e qualquer dúvida a gente tá à disposição ali no WhatsApp, tá certo? Vou deixar as duas últimas perguntas que eu eh selecionei aqui pra Renata pra gente finalizar essa live. Agradeço todo mundo aqui e agradeço muito a Renato também. Foi uma aula e tanto. Gostei bastante aqui, consegui aprender um pouquinho mais, acho que foi interessante para todo mundo. Agradeço muito aí a Renata. Vou colocar você de volta aqui, Renata, e já a próxima pergunta na tela. Tá bom? Tá joia. Então, vamos pra próxima pergunta, Luan. Eh, Jan Hunk, desculpa se eu pronunciei errado, pergunta: “Como escapar dos algoritmos? por e como expomos nossas faltas. Eh, a R não tem como escapar dos algoritmos. Ah, na verdade assim, desde que os algoritmos eh ligaram e e de novo tem esse livro, eu te recomendo muito. Esse aqui é um dos que eu te recomendo, Máquina do caos, para entender um pouquinho como é que funciona esses algoritmos, inclusive eh como que as redes sociais reprogramam eh os nossos pensamentos e a nossa relação com o mundo. É sobre isso que que Max Fischer vai trabalhar e vai trabalhar muitíssimo bem além do dos outros livros que eu fui recomendando durante a live, a escapar dos algoritmos. O que a gente tem falado é de regulamentação. E a regulamentação da rede dificilmente pode ser feita por mim ou por você. a gente precisa realmente que esse assunto seja levado a sério pelos nossos governantes, mas especificamente aí Câmara dos Deputados, Senado e assim por diante. Eh, houve uma denúncia eh recente, acho que todo mundo viu em relação à exploração sexual infantil em vídeos, que levaram esse assunto eh eh a ser finalmente pautado e eu espero que ele seja cada vez mais pautado. Agora, individualmente, o que a gente pode fazer, Hang, é questionar eh as nossas decisões e escolhas. Então, quando você tem um certo impulso de um consumo, de um pensamento, de uma opinião exagerada, de um radicalismo, é interessante de vez em quando você pensar, mas pera aí, por quê? Eh, o a Lacan tem tem uma teoria muito interessante que chama, a gente chama de tempo lógico. E o tempo lógico ele pode ser pensado em três: instante de ver, tempo de elaborar, momento de concluir. Então, imagine que toda vez, isso para todos nós, é um exercício que eu tô assim convidando todos nós a fazer. Toda vez que você percebe que você tá saltando para uma conclusão, recua paraa elaboração. A conclusão ela é muito perigosa, porque depois que você conclua, não conclui, não tem mais volta. Depois que você pegou a mensalidade da faculdade, apostou na Bet, a Bet não vai te devolver. Você fala: “Olha, eu perdi, mas eu tenho que pagar a mensalidade da minha faculdade, você pode me devolver a grana?” Não vão devolver. Então, a parte mais perigosa é a decisão. No entanto, o que a gente mais vê, justamente porque a parte mais perigosa é a decisão, o que a gente mais vê são propagandas, eh, são a movimentos para fazer com que você não pense, só decida. E o que eu tô propondo aqui é o contrário, ao invés de saltar para a decisão, voltar para a elaboração. Acho que por isso que é tão importante, por exemplo, um curso superior e eh o e por isso que ele tem que ser presencial diga de passagem. Eu sou uma das pessoas que defendem o curso de graduação nas áreas de saúde, serem presencial a pós-graduação, tranquilo ser eh online, até porque a gente já vai ter maturidade e bagagem para esse debate, igual a gente tá fazendo aqui. Mas o curso de graduação, vez por outra, a gente precisa fazer eh os alunos pararem um pouco. É, é, por exemplo, um exercício que eu faço quando a gente vai debater algum assunto mais complicado, eu peço, gente, coloca todos os celulares no quadro. Tem aquele lugar onde coloca o giz, eu falo, coloca todos os celulares no quadro, vamos fazer uma roda, fecha todos os computadores, vamos livrar de todas as telas e vamos usar só nossas cabeças aqui para pensar. Toda a bagagem que vocês já tiveram, tudo que vocês leram e assistiram, é o que vocês vão ter para se virar aqui. Vocês vão ter mais nada. a gente vai fazer isso aqui completamente offline. E é muito interessante eh esse exercício, porque de repente você percebe eh que até o seu pensamento tava em nuvem, como a gente tava dizendo. Então, como eh eh escapar do algoritmo eh perceber quando você tá sendo capturado por ele. Quando que você é capturado por ele? Decisões rápidas. Decisões muito rápidas dão notícias de que o algoritmo te capturou. Decisões muito radicais dão notícias que o o algoritmo te capturou. decisões. Ah, por exemplo, a você vê uma notícia, em vez de você elaborar sobre ela, por que essa notícia? Será que ela é verídica? Deixa eu procurar em dois ou três lugares, você já compartilha. Ou seja, a gente percebe a captura pelas pelas esse comportamento disruptivo, prejudicial, um tanto até quanto suicida socialmente. Agora, como e como expomos as nossas faltas? Volto para esse mesmo lugar. Eh, é interessante a ideia, inclusive volto paraa psicanálise de novo para colocar a posição do analista. O analista ocupa o lugar de sujeito suposto saber. E no caso do na clínica das psicoses, a gente ainda mais radical o lugar de suposto não saber. Esse lugar de suposição de saber ou de não saber é um lugar interessante que quando alguém me diz: “Olha, eh, esse postite é rosa choque”, eu vou dizer: “Nunca pensei que esse postite é rosa choque”. me conta como é que você descobriu com esse postite rosa choque e eu vou conversar a partir do que a pessoa me traz e não do que eu me imponho como verdade. Então, expor as nossas faltas implica no final das contas eu topar uma posição de impotência diante do outro, que é o contrário do que tem acontecido na internet. Se você parar bem para pensar, Ran. Veja, na internet as pessoas elas dão uma opinião e o outro fala: “Você é um idiota”. O outro fala: “Você quer”. E de repente as pessoas e você nem mais lembra qual que é o assunto lá em cima. E as pessoas estão se agredindo e deglateando, foram capturados. Então, o modo de não ser capturado, e eu acho que você faz uma relação muito boa na sua pergunta da relação entre algoritmo e falta. O algoritmo é presença maciça, não falta vídeo, não falta decisão, não falta produto. Ele é sempre pleno, fechado, por isso paranóico, inclusive, por isso e eh porque ele sempre responde: “O contrário do algoritmo é a dúvida. O contrário do algoritmo é a elaboração, é o pensamento. Esse seria o contrário. Acho que sua pergunta ela é impecável, é perfeita, porque ela articula essas duas coisas que tem que ser pensadas. O oposto do algoritmo é expor a falta. Obrigada, Ran. Próxima pergunta. A próxima pergunta da Camila. Eh, o algoritmo dos chats de inteligência artificial sempre tentam atender a queixa, sempre tentam atender a demanda, sobretudo, né? Isso colapso o desejo. Como? Veja, Camila, pergunta também fantástica. Gente, vocês estão ótimas. Eh, por que que essa pergunta era muito interessante? A gente disse que a demanda é feita para ser recebida, não atendida. Entretanto, o algoritmo sempre atende, mesmo quando ele não tem condições para isso. Outro dia, Camilo, eu achei muito engraçado, eu queria lembrar o nome da autora de um livro e eu não lembrava. Joguei no chat GPT, o livro tal, qual autora? O chat disse que era eu. Eu falei: “Muito obrigada, mas não sou eu.” Tenho certeza que eu não esqueço escrever esse livro. Mas que eu achei, aí eu falei: “Não, não sou, não é essa autora, nem falei que era eu. Não é essa autora, é qual?” Ele jogou outra pessoa lá pelas tantas. Eu falei: “Não é essa.” Ele: “Ó, me desculpe, você tem razão.” E de vez em quando dizer até o chefe até elogia a gente, como você é sagaz, né? Vou te mandar outra informação. E ele manda outra informação. Ele errou três vezes o nome da autora. Por fim, ele falou: “Não sei, porque na verdade o livro que eu perguntei não existe.” Ele não ia achar o nome da autora, porque o livro não existe. Eh, eh, mas ele responde e responde e responde, mesmo que ele não tenha condições de responder. Então, veja, o algoritmo eh e sobretudo aí o inteligência artificial, eles respondem tudo, mesmo que eles não tenham a resposta, mesmo que a resposta seja falsa. Tanto que você não tem como confiar nas respostas. Hoje em dia, quando eu passo prova pros alunos, eh, quando é em sala de aula, como eu disse, eu coloco os celulares todos no quadro e e a prova é totalmente offline. Mas quando faz trabalhos, por exemplo, em casa, em grupo e etc. A primeira coisa que a gente faz hoje é passar e eh em sites de verificação de pláio e inteligência artificial a as avaliações, né? Então, a primeira coisa que você faz, você pega os PDF os alunos e passa no site de verificação para verificar plágio e inteligência artificial. Eh, e aí teve um dia que eu falei assim, aí o o o sistema que a gente utiliza de verificação de pláio de inteligência artificial, ele me perguntou se eu gostaria que ele corrigisse as verificações. Era uma resenha. Eu falei: “Ah, deixa eu ver o que que ele faz”. pedi para corrigir. Que correção horrorosa. Primeiro que ele deu a mesma nota para todo mundo e segundo que o que ele colocou como relevante era completamente irrelevante. Falei: “Realmente só um ser humano dá conta de corrigir isso daqui e eh realmente conseguir extrair desse texto que é singular do que cada aluno escreveu. Mas veja eh o que de que modo que isso colapsa o desejo. Quando você e não atende a demanda, você recebe a demanda e interroga sobre ela, o sujeito é é é ele se vê obrigado a elaborar mais sobre essa demanda. A demanda é sempre uma demanda de amor, sempre aponta pro desejo. Então quando você não responde à demanda, ele tem que demandar novamente, demandar de um outro modo, elaborar essa demanda, entender porque ele tá fazendo essa demanda, aonde ele quer chegar com essa demanda. E a demanda então se torna um funcionamento da tua vida. Quando você atende prontamente, eh, você rompe esse circuito, a pessoa parece que mortifica-se ali naquela resposta muito rasa e isso colapsa o desejo e a pessoa ela entra numa posição mais inibida. A inibição para psicanálise é semelhante ao que a gente chama de de depressão, uma depressão mais leve, digamos assim. Eh, a pessoa ela vai se inibindo como se ela não fosse mais capaz de inventar o que fazer com a vida a partir de um desejo, porque o desejo, no final das contas, prontamente respondido, eh, não interroga sobre ela, não retorna como enigma, não exige nenhuma elaboração, mortifica. Bom, Luan, alguma pergunta mais ou encerramos? Nenhuma pergunta mais. Bom, então se não temos mais nenhuma pergunta, eu queria agradecer eh a todo mundo por a gente ter conversado hoje e lembrar que semana que vem a gente vai ter mais uma aula. Eh, então, lembrando, a gente tem conversado sobre introdução psicologia, basicamente por estudar psicologia hoje nesse curso gratuito. Espero que vocês estejam gostando. Na primeira aula que já tá gravada, a primeira tá no site do ESP e a segunda, terceira no do ESPD, tá? Na primeira, a gente falou sobre porque estudar psicologia hoje, eh, esse caminho de escuta no mundo de transformação. Porque escolher esse caminho? Primeiro porque a gente precisa de bons ouvintes. Hoje a gente falou sobre telas, diagnóstico, medicalização, inteligência artificial. Que que a psicologia tem a dizer sobre isso a partir da psicanálise. E na semana que vem, na terça-feira, no YouTube da SPD também a gente vai conversar sobre o que que é escutar. que é nossa ferramenta de trabalho. Nossa ferramenta de trabalho não é a inteligência artificial. Nossa ferramenta de trabalho é a escuta. Como é que a gente adentra a psicologia a partir da psicanálise e desempenha, portanto, essa dificílima e raríssima capacidade de escuta. Pouquíssimas pessoas sabem escutar e a escuta é o grande diferencial que só um ser humano pode sabe fazer. Nenhuma internet ou inteligência artificial é capaz de escutar, porque escutar exige transferência, relação interpessoal, eh, uma relação entre dois sujeitos em que um se ausenta de saber para poder receber o saber do outro. Quem se ausenta saber, tá muito claro, é o profissional si que se coloca na posição de supor saber ou de não saber para receber a verdade psíquica, a realidade psíquica do outro que precisa falar diante do seu sofrimento. Então vamos falar sobre o que que é escutar essa nossa ferramenta de trabalho na semana que vem, na terça-feira, às 7 horas, no canal do YouTube do SPD. Obrigada. Gostei muito de estar aqui conversando com vocês. Adorei as perguntas, achei elas extremamente interessantes, extremamente relevantes e a gente continua a conversa na semana que vem. Beijo, até semana que vem, Luan, obrigada por ter me ajudado, pela essa parceria hoje. Até a semana que vem. Beijo, Luan, boa noite.

Telas, diagnósticos, medicalização e IA: o que a Psicologia tem a dizer?

De que modo a psicologia acompanha as transformações contemporâneas e pode intervir junto ao sujeito?

Vivemos tempos intensos e a saúde mental ocupa as manchetes diariamente. O sofrimento psíquico se diversifica e a Psicologia nunca foi tão necessária. Mas o que significa, afinal, escolher esse caminho?

Acompanhe a psicanalista Renata Wirthmann, Doutora em Psicologia pela Unb, neste curso gratuito da ESPD e Instituto ESPE, você irá entender o que move os profissionais que se dedicam a esta área e por que ela é uma das formações mais buscadas do Brasil!

Serão 3 aulas transmitidas ao vivo pela Dra. Renata Wirthmann, nos dias 05, 11 e 19 de agosto, sempre as 19h00. Todas as aulas terão duração de 1 hora de conteúdo e 30 minutos para esclarecimentos de dúvidas dos participantes.

Inscreva-se e ative as notificações para participar ao vivo!

#psicologia #ia #inteligenciaartificial

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